No livro em questão, a protagonista é uma mulher que sofreu violência doméstica. Seu agressor, protegido pelo dinheiro e influência, consegue escapar das consequências legais e continua a persegui-la. É aí que entra o "mocinho", um advogado criminal que, ironicamente, defende pessoas como o ex dela. Apaixonado, ele promete fazer justiça por ela.
Até aí, tudo bem. A premissa parece interessante. Porém, logo nas primeiras páginas, os comportamentos desse "herói" me chamaram a atenção: ele é possessivo, frequentemente rude, desrespeita os limites dela e chega a agredi-la verbalmente. Tudo isso é suavizado pela narrativa, retratado como parte da "personalidade forte" dele, enquanto o amor dele pela protagonista é visto como algo natural e romântico.
O que me incomoda é que esses comportamentos não são tão diferentes dos do ex-agressor dela — apenas apresentados em um nível mais "aceitável" na trama. E isso não é um caso isolado. Muitos livros romantizam atitudes controladoras, frequentemente mascaradas como gestos de "proteção" ou "amor intenso". O que é ainda mais preocupante é ver esses personagens sendo exaltados em edits e comentários, tratados como ideais de homem.
Este texto não é uma crítica para que deixemos de ler esses livros. Mas talvez seja hora de nos perguntar: o que estamos absorvendo deles? Será que estamos, mesmo sem perceber, romantizando comportamentos que, na vida real, seriam sinais de alerta? Eu mesma, às vezes, me pego suspirando com um "ato protetor" que, ao refletir melhor, percebo ser desrespeitoso.
Ler é uma forma poderosa de entretenimento, mas também de absorver ideias e validá-las. Então, o que queremos aprender? O que queremos realmente em um relacionamento saudável?
Nenhum comentário:
Postar um comentário